quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Paisagens olfativas

Parece haver um interesse cada vez maior de pesquisadores a respeito das relações corpóreas das pessoas com as cidades que habitam.
Um blog muito interessante neste sentido é dedicado às relações entre o olfato e o espaço urbano: "Smell and the City", e é mantido pela pesquisadora Victoria Henshaw, da Universidade de Manchester. Trata-se de uma pesquisa interdisciplinar que envolveu uma série de outros pesquisadores, e lida com uma questão bastante interessante relacionada com a apreensão do espaço urbano, uma dimensão do relacionamento com a cidade que mobiliza um sentido poucas vezes explorado (nosso urbanismo ainda é muito predominantemente baseado nos aspectos visuais da cidade).
É possível avaliar espaços urbanos - e até mesmo projetá-los - tendo como base o cheiro? Que tipo de vínculo se estabelece entre os habitantes da cidade e o ambiente olfativo (que, em inglês, é denominado pela autora como a "smellscape" - algo como a paisagem olfativa)? Parece claro que há uma relação entre a percepção positiva de um espaço e a sensação de que este traz estímulos olfativos agradáveis. Uma das mais recorrentes representações da cidade moderna, quando busca fazer menção à sua insalubridade, é a que se refere ao cheiro da fumaça, da poluição. Por contraste, uma das principais qualidades atribuídas ao espaço rural é o "ar puro", ao "cheiro de mato", etc. Seria possível, então, projetar espaços urbanos que sejam estimulantes ao olfato de uma maneira mais positiva, intensificando os vínculos afetivos das pessoas com esses lugares? É a esta questão que se dedica a autora (também autora do livro Urban Smellscapes: Understanding and Designing City Smell Environments - "Paisagens olfativas urbanas: compreendendo e planejando o cheiro dos ambientes na cidade") e o blog. Com base nessa pesquisa, o blog brasileiro "Sampa Criativa" pesquisou os cheiros e impressões olfativas de alguns moradores paulistanos:


Esta pesquisa remete, de imediato, a um autor um pouco mais conhecido no Brasil, que trata das "paisagens sonoras" (soundscapes), R. Murray Schafer - autor de livros como O ouvido pensante. A questão sonora é um pouco mais reconhecida por nós, arquitetos e urbanistas: o projeto acústico e o conforto sonoro é parte mesmo do currículo nos cursos de Arquitetura. Ainda assim, a relação entre som e qualidade urbana é pouco explorada em outros estudos (percepção e qualidade ambiental, planejamento ou história urbanos), e tem pouquíssimo rebatimento em termos de ordenamento territorial (que restringe a questão sonora a limitações de atividades e horários, e ao controle daquelas sob a forma de fiscalização policialesca, como os "Psiu da vida", assunto que tratei em outro blog), raras vezes sendo incorporados aos planos. Se é assim com o som, supostamente mais consagrado, o que dizer do cheiro? E que outros sentidos ainda sequer consideramos (como o tato ou o paladar)?

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